segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A Origem


Nolan nos leva a um dos terrenos mais desconhecidos, a mente humana, para realizar um crime...



Esperei quase um mês para assistir A Origem, justamente para evitar que grandes expectativas me fizessem não gostar de um filme que fosse bom, mas que não fosse espetacular, como eu senti que ocorreu com algumas pessoas. Então finalmente nesse final de semana, fui com minha mulher assistir ao novo trabalho de Nolan.

O filme conta a história de Cobb (Leonardo DiCaprio), um espião que manipula sonhos para ter acesso aos segredos das pessoas. No inicio do filme somos apresentados a seu modus operandi, quando ele é contratado pela Cobol Engineering para descobrir segredos industriais da companhia de Saito (Ken Watanabe). 

Assim Cobb e seu parceiro Arthur (Joseph Gordon-Levitt) invadem o subconsciente de Saito e tentam o enganar, esperando que ele revele todos os seus segredos. Porém a dupla tem sua missão atrapalhada por Mal (Marion Cotillard), fazendo com que Cobb tenha que usar outra abordagem para extrair os segredos de Saito. No entanto mais uma falha acontece.

Sem conseguir entregar segredos que foram contratados para recuperar, Coob e seu grupo passa a serem procurados pela Cobol Engineering. Durante a fuga Saito aparece e oferece resolver a vida de Cobb se ele for capaz de inserir uma ideia, ao contrario de extrair como ele sempre faz, na mente de seu concorrente.

Vendo a chance de resolver todos os seus problemas e ter a sua vida devolta, Cobb aceita a oferta de Saito, e parte para reunir uma nova equipe a altura de realizar essa missão.

A Origem é um filme complexo aberto a diversas interpretações, abaixo dou a minha interpretação junto com a minha opinião do filme baseada nessa interpretação. Assim se vermos o filme sobre outra ótica chegaríamos a outras opinião a cerca da interpretação dos atores, do roteiro e principalmente da cena final do filme. 

Após assistir ao filme, não entendi a que ele se propunha. Se era um filme de assalto, como 11 Homens e um Segredo, com toda a estrutura básica: montagem de equipe, planejamento e execução do crime, nesses caso da inserção, cheia de imprevistos ou se era um drama de um homem atormentado que precisava se libertar da culpa de ter causado a morte da mulher. Eu sinto que a ideia era o drama, mas as cenas de ação e toda a ênfase que dão aos efeitos visuais (a questão do tempo diferente entre os sonhos, a alteração de gravidade e afins) me afastavam dele, tirando a minha empatia pelo Cobb, me fazendo prestar muito mais atenção em como eles iriam terminar a inserção, do que em Cobb. Acho que embora a ideia do filme, extração e inserções de ideias no subconsciente das pessoas enquanto elas dormem, seja muito boa o roteiro do filme deixou a desejar. Acredito que ele se perdeu no meio do filme.

Alguns detalhes me chamaram muita atenção, primeiro é a personagem Ariadne (Ellen Page), que em nenhum momento rejeita a ideia proposta por Cobb, de inserir algo na mente de outra pessoa. Tudo bem que o fato de existir uma forma de construir mundos inteiros apenas o imaginando, deva ser algo divertido para uma estudante de arquitetura, mas a ponto de aceitar facilmente fazer algo ilegal? Outro detalhe dela é que Ariadne, a arquiteta, não arquiteta nenhum dos sonhos. Ela faz as maquetes e afins junto com Yusuf, mas por qual razão ela era tão necessária se quem fez toda a "arquitetura" dos sonhos foram Yusuf, Arthur e Eames, a contrataram apenas pra fazer maquetes? Apenas para ser alguém pra dar ideias de como os arquitetos deveriam criar os sonhos?

Outro personagem que não entendo é Saito (Ken Watanabe), ele é um industrial japonês com grande influencia e poder, a ponto de resolver toda a vida de Cobb. Seja o salvando em Mombasa, comprando a companhia aérea para que o plano de certo ou mesmo resolvendo seus problemas com a justiça, Saito aparentemente pode fazer o que quiser. Mas como uma pessoa tão importante assim, aparece em Mombasa no meio de um tiroteio, o mais racional seria mandar seguranças, mercenários e afins e não colocar o líder corporativo no meio do fogo cruzado.

O terceiro detalhe é que Cobb não tem um totem. O pião era o totem de Mal, e como Arthur explica a Ariadne, o totem tem que ser pessoal, não podendo nem ser tocado por outro. Então todos os testes que Cobb realizam com o pião não são necessariamente confiáveis, visto que ele ouviu Mal falando que o pião não parava em sonhos, o que é bizarro como um objeto simples assim poderia contrariar as leis da física, se caso o pião não fosse o dele e sim um criado no meio do sonho de outra pessoa ele não cairia? Porque se é exatamente isso que os piões fazem normalmente, o totem de Arthur parece muito mais plausível nesse sentido, um dado que ele sabe estar viciado então ao jogar e cair de forma normal e não da forma diferente que ele calibrou o dado para fazer ficaria fácil saber.

Aliando essas informações e a cena final que está muito semelhante a como Cobb se lembra concluo que o filme inteiro se passa na mente de Cobb e toda a história do filme é sobre uma inserção nele, guiada por Ariadne e Saito, para que ele deixe a culpa em que vive e seja feliz. Assim acredito que o roteiro é fraco, pois todas as regras que vemos em cena e que deveriam nos guiar e ajudar a entender o que vemos, já que estamos nos confrontando com um mundo fantástico diferente do nosso, não são confiáveis, podemos estar sendo enganados assim como Cobb está sendo. Por exemplo, o conceito de Limbo eu não entendi, se ele é uma camada predeterminada, ou se é um estado entre a consciência e a inconsciência e outro detalhe se ele é pessoa ou se é o inconsciente coletivo, como eu já vi em alguns lugares pessoas falando. 

Como penso que tudo é um sonho, o pião cair ou não no final não tem importância, o fato que essa cena retrata é que a inserção deu certo, pois Cobb desiste da confirmação e vai ser feliz, evitando se transformar num velho cheio de arrependimentos por não viver, seja na realidade ou num sonho, como Saito diz.

Assim vejo que Saito e Ariadne fazem bem o seu papel, serem os guias de Cobb, de outra forma seria estranho ver Ariadne com seus 20 anos dando lição de moral em Cobb que viveu mais de 80 anos. E Saito me lembrou o personagem de Ken Watanabe em O Último Samurai, com suas frases sabias. 

A atuação dos atores e a execução técnica do filme é muito boa. As cenas com alterações de gravidade ficaram bem feitas e refletiram o fato que tudo é normal num sonho, todos os seguranças agem como se fosse normal andar pelas paredes e afins. Até o momento não vejo como tirar o Oscar de efeitos visuais de A Origem.

Resumindo, penso que a ideia do filme é interessante, mas que não foi bem executada. Achei que o filme ficou longo demais, quando Ariadne fala para buscarem o Fischer no Limbo eu já tava torcendo pro filme acabar, a maioria das cenas de ação eu achei desnecessárias e que não contribuíram em nada no roteiro, na verdade acabaram se tornaram distrações. Eu acho que todos devem assistir para tirarem suas próprias conclusões, por que ate agora eu não li duas pessoas que tenham visto o filme da mesma foram. Mas ainda fico com Cidade da Sombras que no quesito ideias implantadas foi muito mais feliz.

Ainda vejo Amnesia e O Grande Truque como os melhores trabalhos de Nolan...




Trailer:




Ficha:
A Origem

Nome Original: Inception
Diretor: Christopher Nolan
Elenco:  Leonardo DiCaprio, Joseph Gordon-Levitt, Ellen Page, Tom Hardy, Ken Watanabe, Dileep Rao.
Idioma: Inglês
Estréia: 16/07/2010 (06/08/2010 no Brasil)
Prêmios:
Cena: A conversa de Cobb e Mal no Limbo.
Frase: " Qual é o parasita mais resistente? Uma bactéria? Um vírus? Não. Uma idéia! Resistente e altamente contagiosa. Uma vez que uma idéia se apodera da mente, é quase impossível erradicá-la. Uma idéia que é totalmente formada e compreendida, permanece  "
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt1375666/

6 comentários:

Profa Thaís disse...

Pelo visto tenho problemas com o diretor porque não gostei muito de nada que ele fez. São filmes interessantes, divertidos e só. Nada de genial como tão falando por aí. Acho que as diversas interpretações são possíveis mais porque tem muitos buracos do que por qualidade do roteiro. Enfim, só pra variar não concordo com a maioria...

MikaNoRio disse...

Pelo que eu entendi, a Ariadne projeta os sonhos até nos seus detalhes, como texturas,arquitetura e etc. O papel de Yusuf, Arthur e Eames de sonhadores é manter aquele sonho em pé. Como se ela criasse o lugar mas alguem tivesse que ficar nele para impedi-lo de se desfazer.
E o Cobb pediu a indicação de um aluno que faria o que ele quer, então aquele senhor (que eu não lembro o nome) nao iria escolher alguem que se opoe a quebrar a lei.

O Saito é um chefe, ele manda quem ele quiser e ele vai se ele quiser.

O Cobb nunca mostrou o totem original dele, e ele usa o da Mal por motivos pessoais. Como identidade, o totem tem o peso e momento sem contar que outras pessoas não saberiam dele na hora de criar um sonho ,entao ele giraria eternamente em um sonho alheio, por falta de parametros.

O limbo fez sentido pra mim. O Fischer cai no limbo qndo morre no sonho da neve. O limbo é uma construçao do coletivo, todos vão para o mesmo limbo. No limbo deles existe a cidade que Cobb criou com Mal, que representa a relaçao entre os dois. Eles acabaram, mas Cobb ainda se segura às ruínas daquilo que já foi. Ariadne e Cobb descem até lá sem morrer porque não existe nivel mais baixo que aquele da neve, o proximo já é limbo.
Lá, Cobb se desfaz do peso que era a Mal do subconsciente dele, por isso a cidade desaparece do limbo.
Quando a van entra no rio, o Cobb morre no primeiro sonho e vai pro limbo de novo, por isso ele aparece na praia de novo.
Agora só tem o que o Saito criou no limbo.

LuCaS disse...

Assisti duas vezes a esse filme. Percebi diversos erro e furos no roteiro e na continuidade de algumas coisas. Mas, depois de um tempo de filme, procuramos embarcar mais na história e deixar o lado técnico de lado. O tema principal do filme realmente é genial e a execução deixou a desejar, Mas encarar tudo com seriedade não é a melhor maneira de encara uma ficção. Sugiro embarcar e deixar tudo rolar. as cenas de ação são só para "incrementar" a empreitada. Fiquei em êxtase com a cena da briga sem gravidade. Leve em consideração que a cada 10 notícias de filmes que vemos hoje em dia 8 são refilmagens ou adaptações de HQ/GAMES. A Origem realmente foi um escape dessa rotina.

Anônimo disse...

Cobb tem um totem é a ALIANÇA DE CASAMENTO. veja novamente o filme e repare, sonhos com aliança, realidade sem aliança. Veja o site do IMDB que os atores que fazem as crianças são diferentes. Caso tudo fosse um sonho, ele iria voltar para limbo quando "morresse" no final, mas ele volta para a realidade. Mais, quando COBB e o japa acordam no avião os demais já estão acordados, porque "voltaram" antes. dentre outras coisas

Falcão disse...

gostei da sua pontuação, mas eu acho que você observou tanto algumas coisas que acabou por não vê-las, como por exemplo ariadne ter aceitado tão rápido, que eu me lembre ele ofereceu a ela bastante dinheiro, algo como 1/4, fora que pessoas sem princípios existem, sobre o saito estar em mombasa, essa foi a parte do SONHO :S, esqueceu de mencionar também na ligação claramente vista no final com o filme 13º andar, (um dos precursores de matrix), que deixa o telespectador sem saber o que seria realidade e o que não seria.

Insone disse...

@ daniela.

Então ela geraria o mapa e depois daria o sonho para outro gerenciar? Se fosse isso porque ela teve que pedir a Cobb para participar da missão Fischer? Só se fosse algo pré realizado, ela criaria o sonho mostraria aos outros e depois na hora da missão eles apenas lembrariam dele. No inicio do filme o arquiteto fica no sonho que criou, assim como Yusuf ficou no do Fischer. Enfim eu não entendi direito o que o arquiteto faz.

Quanto ao totem, então o arquiteto iria criar o sonho sem o peão, por não o conhecer e Cobb o levaria para o sonho, assim como ele leva toda a população. E por esse ser um objeto que não fazia parte do sonho ele iria se comportar de forma bizarra, no caso do pião ele não cairia? Interessante não tinha pensado nisso, mas ainda acho estranho a existência de um pião que não caia.

@LuCas.

Concordo com você, meu problema com o filme foi não conseguir entender qual era a história do filme, que mensagem Nolan pretendia passar. Não tenho problemas em cair na ficção e curtir. O próprio Cidade das Sombras que cito no texto, é bem viajado, tem erros e afins mas consegui entender qual era a mensagem e pronto. E novamente concordo que sempre é bom ver histórias originais nos cinemas.

@Anônimo

Depois de escrever o post, eu ouvi essa teoria da aliança. Preciso rever o filme prestando atenção nisso. Quanto as crianças eu disse que o final é semelhante, e não igual, ainda mais porque não sonhamos exatamente igual a nossa realidade. Quanto a morrer e pra onde você vai, pelo que eu entendi as pessoas sobem de nível, Arthur morre no sonho do Saito e não volta para a realidade, e sim para o sonho logo acima no inicio do filme. O problema é que na missão Fischer, eles estão tão dopados para manter a estabilidade dos sonhos, dentro dos sonhos, que os impediria de acordar tão rapidamente e fazendo com que caiam no Limbo. O Fischer e Ariadne não saíram do Limbo direto para o avião, eles voltaram para um sonho, então ainda faz sentido que Cobb e Saito saiam do Limbo para uma outra camada de sonho.

@Falcão

Sim, podemos ver Ariadne dessa forma mesmo. Mas a forma como o sogro/pai de Cobb apresenta Ariadne, me deixou pensando que tem mais coisas que isso. Sobre 13ª Andar, eu assisti na época que saiu, então só lembro da questão das realidades simuladas e a sobreposição de camadas, mas não lembrava dessa questão de dúvida, eu lembrava que o personagem principal, subia de nível e chegava a realidade com a mulher lá. Preciso rever o filme, é muito bom.

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